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domingo, 13 de julho de 2008

ARTIGOS DIVERSOS

Uma Visão Atual da Wicca


Vivemos numa época de constantes e rápidas mudanças. Ao contrário dos nossos ancestrais, que passavam suas vidas numa espécie de realidade previsível, estamos expostos todo o tempo a influências muitas vezes originadas em pontos muito distantes, mas que nos afetam na medida em que o mundo se transformou numa enorme aldeia, como já previra MacLuhan.
Apesar dessas transformações e mudanças externas, existem coisas que ainda são imutáveis, graças à Deusa. O pensamento moderno, acostumado a conviver com alterações constantes, passou a crer que todas as coisas, tanto superficiais quanto profundas, estão sujeitas do mesmo modo a essas mudanças. Tornou-se uma necessidade humana promover transformações. Mas há coisas que não podem ser tocadas por nossa vontade, e essas coisas são, entre outras, as Leis da Natureza que a tudo regem. Podemos conhecê-las, mas não podemos alterar-lhes o fluxo. Coisas como o nascimento, a morte e o eterno ciclo das estações, são realidades imutáveis. Mesmo cientificamente falando, qualquer incursão no terreno das leis físicas, aproveita suas marés pré-existentes. Tanto a magia quanto a moderna física, embarcam na corrente do rio existencial para utilizar o seu poder.
A Wicca tem sido transformada nos últimos 40 anos. Por diversos motivos, ela tem sido adulterada: uns dizem que para melhor e outros dizem para pior. Tais motivos são conhecidos de todos os modernos wiccanianos, e só para falar de alguns, podemos enumerar o afastamento progressivo das tradições e dos ensinamentos antigos, a auto-iniciação, o puritanismo judaico-cristão de muitos novos convertidos, etc.
Meu propósito neste artigo não é o de falar sobre essas mudanças e seus motivos. Mais importante do que tudo, é procurarmos compreender a visão ancestral da bruxaria, desse antigo rio que desaguou na Wicca. Se a Wicca tem se tornado uma religião distorcida e superficial, precisamos procurar na sua origem seus verdadeiros fundamentos. Esses fundamentos nos reportarão a princípios primitivos, pois a bruxaria é uma religião primitiva, não no sentido de conhecimento menos complexo ou inferior, mas no sentido de antigo, primordial. Já era praticada no período Neolítico e sua antigüidade pode ser observada em muitos de seus ritos. Como sabemos, a Wicca é uma religião que usa a magia como meio de expressão. A magia é empírica, utiliza-se de uma seqüência de ações e procedimentos práticos, sendo que no seu exercício, o poder flui por determinados canais energéticos que precisam ser alimentados. Infelizmente, hoje em dia, muitos desses ritos de grande poder foram substituídos por simulacros ou ritos simbólicos.
Nos últimos anos, tenho erguido uma bandeira incansável no sentido de conscientizar os wiccanianos da necessidade de conhecer os ritos antigos e de praticá-los corretamente. Este artigo pretende mostrar a necessidade de um retorno às práticas ancestrais, porque é através delas que o poder se manifesta.
Os modernos wiccanianos, ao negarem ou desconhecerem os antigos ritos, abriram mão do poder. Isso é deveras lamentável, e tornou a Wicca uma religião superficial justamente naquilo que é uma de suas bases mais importantes: a magia. O que temos assistido é a uma brincadeira colorida e festiva. Muitos wiccanianos só conhecem os ritos religiosos que estão descritos no Livro das Sombras, desconhecendo completamente os fundamentos existentes além deles.
Antes de falarmos sobre alguns desses ritos tão antigos, precisamos perguntar a nós mesmos se estamos determinados a realizá-los ou não. Em caso negativo, devemos procurar descobrir o que nos impede de fazê-lo. Muitos bloqueios morais estão inseridos nessa recusa, muitas vezes inconscientemente. Se nos propomos a seguir uma antiga religião pagã, necessitamos estar ciente de que seus padrões morais e éticos são totalmente diferentes daqueles das religiões ortodoxas. A essência da bruxaria pode parecer nova para muitos dos recém convertidos, que assumem uma postura de intransigência com relação à aceitação de seus princípios e valores. Entretanto esses valores são tremendamente antigos e não existem por acaso. Eles estão inseridos num contexto e nega-los porque nossos condicionamentos não os aceitam é abrir mão de uma gama tremenda de poder ancestral.
Isso algumas vezes se torna bastante perigoso, como eu mesmo tenho presenciado em diversas oportunidades. Algumas vezes, os poderes invocados e levantados no círculo comparecem e precisam ser alimentados com certos tipos de energia que não tem sido mais utilizado pelos wiccanianos modernos. Como não podemos explicar aos poderes elementais que agora esses ritos são feitos apenas simbolicamente, eles não receberão as energias devidas, mas de qualquer forma vão absorvê-las de outra maneira, porque estão lá para isso. As conseqüências podem ser percebidas desde o surgimento de pequenos problemas de saúde até perigosos distúrbios no sistema nervoso central: em primeira instância, são problemas que afetam a aura do praticante, por onde a energia vital é drenada, e que não sendo detectados, terminam por se transformar em doenças físicas.
Do mesmo modo, as energias dos próprios praticantes necessitam ser reposta, realimentadas, o que implica num conhecimento bastante específico. Como o próprio Dr. Gerald Gardner mencionou em seu livro Witchcraft Today, nossos corpos “transpiram” o poder. Assim, precisamos saber perfeitamente por onde esse poder é transpirado, o momento certo para projetá-lo e o momento certo de retê-lo. Em contrapartida, também precisamos conhecer as técnicas de fechamento e proteção, pois do mesmo modo como as energias são exteriorizadas por nós, também podem ser absorvidas. E não é nada interessante absorver uma carga de energia negativa.
Naturalmente que todos esses cuidados só são imprescindíveis quando os praticantes realmente lançam corretamente o círculo e sabem invocar os Guardiães.
Existem muitos materiais que são utilizados nos antigos ritos como canalizadores do poder. Essas substâncias são transmissores e receptores naturais de energia e possuem um poder intrínseco. Devido ao seu poder peculiar, podem absorver, canalizar e projetar energias. Entre as principais, temos: sangues de todos os tipos (animal, vegetal e mineral) e pós-feitos com matéria orgânica e mineral. A questão do sangue na Wicca é muito controvertida e a maioria dos wiccanianos afirma que ele não é usado. No entanto, em determinados rituais, não existe substituto possível para ele. Não existe nada mais forte, mas os Mistérios do Sangue estão quase que completamente esquecidos.
Durante muitos séculos, os ritos sexuais desempenharam um papel preponderante na bruxaria, uma vez que estão intimamente ligados aos poderes da vida, da morte e do renascimento. Qualquer rito iniciático não é válido sem a presença dos Mistérios Sexuais, bem como dos Mistérios do Sangue. Entretanto Grande Rito tornou-se hoje uma pálida e inexpressiva paródia. Pode ser muito bonito mergulhar um punhal numa taça, mas o poder não está nessa farsa. Qualquer wiccaniano devidamente iniciado e que tenha realizado o Grande Rito real, sabe que no seu arremedo simbólico não existe uma canalização de poder semelhante. A maioria dos covens modernos deixou de praticar os ritos dos Mistérios Sexuais.
Ninguém mais ouve falar dos ritos de confirmação da liderança sacerdotal, realizados a cada sete anos. Esses ritos só podem ser presenciados por iniciados de Terceiro Grau pertencentes ao clã. Atualmente, por desconhecimento talvez, os ritos foram substituídos por um simples juramento no círculo. Mas o poder pessoal precisa ser alimentado devidamente, o que não é mais feito. Tal cerimônia encarrega-se de restituir as energias do Alto sacerdote ou Alta Sacerdotisa, enfraquecidas depois de decorridos os sete anos. Como no rito iniciático, essas energias são canalizadas através de substâncias vitais para as quais não existe substituto.
Covens tradicionais (Gardnerianos e alguns Alexandrinos), continuam a praticar esses ritos. Eles são transmitidos pela tradição oral, nunca foram escritos em nenhum lugar. Os Anciãos que ainda detém esse conhecimento preservam-no muito bem. Um bom exemplo, é encontrado no antigo ritual de imobilização, também conhecido como rito de atar. Tenho lido algumas descrições bastante superficiais dele, omitindo partes importantes e imprescindíveis, pois tais detalhes não devem ser veiculados. Os ensinamentos dos anciãos nos dizem que somente bruxos iniciados devem realizá-lo. O propósito desse rito é neutralizar influências negativas ou perniciosas vindas de outras pessoas. Começa-se fazendo uma boneca que representará a pessoa, se possível utilizando pedaços de roupa usadas por ele ou ela. De acordo com a natureza do rito, a boneca será feita e utilizada na fase lunar propícia.
A primeira recomendação é que a boneca seja confeccionada com materiais naturais, já que são melhores. Lã, algodão e seda são melhores do que materiais sintéticos. A maioria dos wiccanianos já teve experiências com materiais sintéticos e constataram que eles não proporcionam uma ligação energética satisfatória. Muitos fazem uma boneca de malha ou crochê, pois enquanto ela é preparada, visualizações e mentalizações reforçam o propósito da magia a cada ponto da costura. Quando a boneca é confeccionada, costuma-se incorporar qualquer objeto que pertença à pessoa que ela representa, tais como cabelo, pedaços de unhas, uma fotografia do rosto para ser colocada na cabeça da boneca. Como podemos perceber, a identificação com a boneca deve ser a nível real, ou seja, energético. Seguindo os ensinamentos do velho caminho, no mínimo um homem e uma mulher devem realizar o rito. O segredo é encenar o chamado “nascimento”, ou seja, transmitir vida à imagem. Isso pode ser feito utilizando-se substâncias como o sangue menstrual, sêmen, saliva, etc., seguindo-se a uma dramatização do parto, assistido pelo homem. Quanto mais real o rito melhor, e o ideal é que o casal possua uma forte ligação íntima, como parceiros de coven. Essa é a parte principal do rito, que termina com a amarração da boneca dentro da máxima concentração e visualização.
Como podemos perceber, materiais orgânicos são excelentes transmissores do poder. Nos ritos de iniciação, por exemplo, são os vários tipos de sangue que possibilitam a transmissão da ancestralidade. Esta só pode ser passada pelo sangue, que é o veículo de transferência em todos os rituais que envolvem morte e renascimento.
Para compreendermos a necessidade da realização dos rituais da maneira correta, podemos fazer uma analogia interessante entre o rito real e o simbólico. Por definição, símbolo é um elemento ou objeto material, que por convenção arbitrária, representa ou designa a realidade complexa. Quando invocamos determinados poderes no círculo, como por exemplo os poderes elementais, eles desconhecem completamente nossa visão arbitrária e representativa da realidade. Eles esperam obter o poder e as energias específicas, necessárias para a execução do rito. Se o rito é simbólico, seria o mesmo que convidar você para um jantar, servindo somente fotografias dos pratos em lugar das comidas. Algo bastante frustrante. Como pessoas civilizadas, podemos até compreender e rir de tal procedimento, mas os poderes elementais não têm esse senso de humor. Em magia precisamos lidar com as energias reais, e não com convenções. O poder precisa fluir, não é uma opção facultativa e dependente dos nossos caprichos.
Outro ponto importante, é aquele que se refere ao Chamado do Deus nos círculos de Wicca. Essa cerimônia tem sido descartada sistematicamente, uma vez que envolve uma nítida expressão sexual. Infelizmente não posso entrar em muitos detalhes, mas nos covens que ainda seguem o velho caminho, o Sacerdote ou alguém por ele escolhido, serve de veículo para a canalização do poder do Deus em seu aspecto de Senhor da Fertilidade. Evitar esse rito e utilizar-se de substitutos simbólicos não é recomendável, uma vez que a essência divina do Deus de Chifres não fluirá através da pessoa escolhida.
Na Chamada da Deusa dá-se a mesma coisa, embora a intensidade da manifestação sexual não seja tão visível, por motivos óbvios. Entretanto os procedimentos iniciais necessitam ser realizado em ambos o caso, já que é a energia sexual que canaliza o poder. O canal de acesso do poder divino no círculo é aberto do seguinte modo: através da ativação dos nossos centros de poder, canalizamos energia que, junto com o estímulo sexual ativa nossas glândulas endócrinas, gerando mais poder. A nossa energia tende a subir pelos centros, até o centro da cabeça, abrindo-o. O poder da Deusa e do Deus flui por ele, preenchendo o corpo, mente e espírito do sacerdote receptor. Assim falando pode parecer simples, mas essa prática necessita de um treinamento árduo e penoso, a partir do Segundo Grau de Iniciação, ao menos na Tradição Gardneriana. Qualquer bruxo da velha escola sabe que, ao estarem preenchidos pela essência divina, os sacerdotes exteriorizam esse poder, e o modo mais forte é através do sêmen e das secreções vaginais.
Outros ritos que foram marginalizados pelos modernos wiccanianos, são aqueles centrados nos Mistérios da Transformação, cujo veículo principal é o crânio. Poucos covens na atualidade sabem como utiliza-lo corretamente e a maioria deles nem mesmo possui um. No entanto o crânio é importantíssimo como elemento de ligação com a ancestralidade do clã.
Todas estas informações poderão parecer chocantes para muitos dos modernos wiccanianos, mas observando a situação atual da Wicca, vemos que, embora ela seja uma das religiões que mais cresce no mundo, tem sistematicamente perdido muitos de seus fundamentos. Inegavelmente não se pode aprender Wicca através de livros, principalmente se os autores veiculam suas idéias próprias a respeito da religião e não possuem uma ancestralidade definida. Infelizmente, muitos dos modernos wiccanianos tem seguido as versões de autores modernos, como Starhawk e S. Cunningham, que na verdade não podem ser observadas como padrão da realidade. Ao mesmo tempo, presenciamos a uma total falta de respeito com relação aos anciãos, que passaram a ser vistos pelos novos wiccanianos de igual para igual. Inegavelmente que esses anciãos são detentores de grandes conhecimentos, que devido a essa postura, são lamentavelmente perdidos.
Esses poucos exemplos nos mostram o quanto é importante procurarmos estabelecer um contato mais íntimo com os conhecimentos antigos. Embora seja corriqueiro afirmar-se atualmente que o Dr. Gerald Gardner “criou” a Wicca a partir de diversas fontes, na verdade o conhecimento ancestral adquirido no coven de New Forest não foi negligenciado. Todo o conhecimento dos Mistérios Sombrios Wiccanianos foi devidamente resguardado pela tradição oral. Cabe aos modernos seguidores da Religião da Deusa resgata-los e preserva-los para que não sejam totalmente esquecidos.

Mario Martinez, Alto sacerdote Gardneriano de Terceiro Grau.







O Que Foi Feito do Antigo Conhecimento ?


Muitas pessoas me procuraram após a apresentação do meu Workshop deste ano no EAB, a maioria delas trazendo as mesmas dúvidas e dificuldades. Assim sendo, resolvi escrever este artigo na tentativa de esclarecê-las. Naturalmente que para que isso ocorra, a pessoa deverá ter um mínimo de conhecimento sobre Wicca, ter a mente aberta para assimilar novos conhecimentos, bem como a humildade necessária a todo principiante.
Para iniciarmos qualquer aprendizado, temos que nos conscientizar de que existem três tipos de conhecimento: o cognitivo, o da habilidade e o da atitude.
Segundo Paulo Freire, existem três tipos de consciência. A consciência mágica, vê somente o objeto, não percebe causa e efeito e possui um sentimento de impotência ante o mundo; as consciências ingênuas, que apenas vê o sujeito e possui um sentimento de onipotência em relação a tudo; e a consciência crítica, que percebe causa e efeito, sujeito e objeto, possuindo um sentimento de potencialidade ante o mundo.
A consciência mágica atua na pessoa que vê tudo como uma ação maior que ele. Como o pastor que tem seu rebanho dizimado por um raio, e acha que a divindade o está castigando por alguma coisa que tenha feito. Ele não vê que, se colocar o rebanho no pasto com uma tempestade próxima, perderá suas rezes novamente. A consciência ingênua pertence à pessoa que acha que pode tudo, que é auto-suficiente e não precisa ouvir outras pessoas mais experientes. Já a consciência crítica possui a capacidade de perceber que nem tudo é predestinação ou castigo divino, e sabe perfeitamente que não tem a capacidade para conhecer coisas que estão além do seu universo, desenvolvendo uma atitude crítica sobre si mesma e o mundo.
Assim, para aprendermos, devemos em primeiro lugar possuir uma mente analítica, e sabermos que não somos auto-suficientes, precisamos abandonar a consciência ingênua de que podemos aprender sozinhos. Conhecimento apenas não é o bastante. Habilidade sozinha nada pode fazer. Necessitamos de uma atitude que envolva conhecimento e habilidade. Esse é o caminho em qualquer tipo de aprendizado.
Passemos a conhecer nossa potencialidade como seres humanos, porque somente sabendo de sua existência, poderemos operar magia e desempenhar nossas funções sacerdotais.
O primeiro passo é conhecermos nossos Centros de Poder. Como o Dr. Gardner afirmou em seu livro Witchcraft Today, o poder “transpira” dos nossos corpos. Para utilizar o poder, necessitamos saber por quais pontos ele “transpira”, como exterioriza-lo ou bloqueá-lo no momento certo.
Assim, temos que entrar em contato com o funcionamento energético dos nossos corpos. Das centenas de pontos que transmitem e recebem energias, existem oito principais, localizados ao longo da espinha e ligados ao Sistema Nervoso Central. No SNC, existem duas correntes energéticas, chamadas de Corrente da Deusa (negativa e receptiva, lunar), localizada no lado esquerdo, e a Corrente do Deus (positiva e ativa, solar), localizada do lado direito.
Desse modo, o perfeito equilíbrio entre essas duas correntes influi na secreção das glândulas endócrinas que estão associadas aos oito principais Centros de Poder, a saber: Básico, Sexual, Umbilical, Plexo, Cardíaco, Laríngeo, Frontal e Coronário. Ou seja, as correntes energéticas estimulam os Centros de Poder, que estimulam nossas glândulas de secreção interna, que estimulam determinados órgãos do nosso corpo, que geram energia e que alimentam novamente os Centros de Poder. Como podemos perceber, trata-se de um círculo energético. Nosso aprendizado volta-se para as técnicas de utilização desse poder ou dessas energias, as quais são utilizadas na bruxaria desde tempos imemoriais para diversas finalidades, desde o lançamento do Círculo, até consagrações e imantações de objetos.
Aliando as técnicas de mentalização, concentração (união com os elementos) e abertura dos Centros de Poder, podemos trabalhar com essas energias no momento em que precisarmos delas, projetando-as para criarmos o espaço sagrado, no qual operamos os ritos.
Atualmente podemos conhecer o funcionamento dessas antigas técnicas através da medicina e da biologia, mas nossos antepassados as utilizavam por intuição, ou por meio de um aprendizado que passava através das gerações, de iniciado para iniciado.
Como nossos antepassados, devemos aprender e treinar essas técnicas sob a orientação de uma pessoa experiente. Na Tradição Gardneriana isso é feito através do ensinamento oral e da prática. As práticas precisam ser assimiladas utilizando-se a percepção das sensações físicas e psíquicas que se apresentarem durante o processo. Esse antigo ensinamento não pode ser passado como um simples conhecimento, ou tentado através da habilidade sem embasamento, mas potencializado através de uma auto-observação cuidadosa de si mesmo.
Não é desnecessário dizer que trabalhar com nossas energias é tremendamente perigoso. Se o fizermos sem a assistência de um Elder ou de alguém experiente, poderemos nos ver diante de distúrbios energéticos que poderão, muitas vezes, afetar nossa saúde. Problemas mais comuns são aqueles que afetam o equilíbrio do Sistema Nervoso Central. Desse modo, o ideal é que sejamos acompanhados por sacerdotes e sacerdotisas mais antigos e experientes.
O que tem me preocupado bastante nos últimos anos, desde que passei a realizar palestras e cursos, tendo a oportunidade de encontrar novos seguidores da Arte, é o desconhecimento quase total dos antigos ritos e símbolos. A Wicca que se pratica hoje em dia parece não ter nenhuma conexão com aquela que aprendi nos anos 60 e creio que nos próximos 20 anos, as futuras gerações terão perdido completamente os caminhos da Antiga Religião. A Arte não é mais conhecida, nem mesmo por consagrados autores, que não mencionam em seus livros os ritos que eram celebrados por nossos avós. Tudo muito preocupante, na medida em que os modernos seguidores de Wicca nem mesmo querem se dar ao trabalho de ouvir as experiências dos mais antigos membros dos clãs. As velhas histórias não são mais contadas aos mais novos, a televisão tomou o lugar das reuniões de família e dessa maneira toda a tradição se perderá irremediavelmente.
Alguns meses atrás, assisti a um documentário sobre tribos indígenas do Brasil. No centro das aldeias existe uma grande oca, ponto de reunião, na qual os velhos contavam aos jovens as antigas lendas. Um ancião levou o jornalista até lá e apontou para um ponto no centro da oca, onde agora existe uma televisão. Segundo ele, ninguém mais conhece as raízes antigas, as histórias e lendas e a própria língua ancestral. Quando aquele ancião morrer, todo um mundo inestimável de conhecimento perecerá com ele.
Algo semelhante tem acontecido com a Wicca. A auto-iniciação é a principal causa da perda do conhecimento do antigo caminho, e o que a maioria das pessoas tem praticado é qualquer coisa, menos Wicca. Tente alguém apontar tal distorção, e será imediatamente contestado. Não importam mais os verdadeiros fundamentos e os antigos Mistérios, pois como Michael Kaufman disse: “... três quartos dos chamados wiccanianos na América pensam que Wicca é simplesmente um eufemismo para “faça sua própria religião da maneira como quiser”.
A alegação atual para tudo isso, conforme temos ouvido em diversas oportunidades, é que a grande maioria é de auto-iniciados e que portanto essa prática está correta. Tais distorções só servem para confundir as pessoas novas, que chegam sem nenhum conhecimento. Se pertencer à maioria é sinônimo de estar com a verdade, então os nazistas estavam corretos, o comunismo e o capitalismo são paraísos e as guerras são abençoadas pelos deuses. Quase sempre, a Verdade está com as minorias.
Outro ponto importante a ser considerado, é que atualmente toda a ênfase dos ensinamentos recai sobre os métodos e técnicas de utilização do poder, abandonando-se os fundamentos da Wicca como religião. Desde há muito tempo, determinados gestos e atos rituais tem sido usados em invocações, tais como a Chamada da Deusa e do Deus. Outro conhecimento que está se perdendo aos poucos, talvez devido ao fato de que esteja restrito aos covens tradicionais.
E por falar em tradição, assistimos hoje em dia a uma proliferação de “tradições” de Wicca sem nenhuma tradição. Essa palavra perdeu seu significado real, para virar sinônimo de novo modelo de culto. Na verdade, tradição significa a transmissão oral de lendas, fatos, valores espirituais e práticas, de geração em geração. As modernas vertentes da Wicca não possuem nenhum respaldo nas gerações passadas. São expressões criadas após sucessivas modificações dos fundamentos originais, que por esse motivo perderam sua essência. Se não fazemos mais o que nossos avós faziam, como podemos chamar a isso de “tradição” ?
Professamos uma religião de considerável Antigüidade. Seus valores e fundamentos foram preservados à custa das vidas dos que trilharam esse mesmo caminho no passado. Nosso dever é proteger esse legado com todas as nossas forças, honrá-lo e zelar para que nossos descendentes ainda possam praticar a Antiga Religião.


Mario Martinez, Alto sacerdote Gardneriano de Terceiro Grau











Wicca e seus Mistérios


Ultimamente, ouvimos pessoas falando sobre como a Wicca é livre e destituída de princípios e dogmas. Na realidade, como religião iniciática e de Mistérios, encontramos nela grande profundidade, quando, ao contrário da maioria que entra em contato com ela de raspão, temos a oportunidade de viver as iniciações tradicionais.

Deparamos com um bom exemplo disso, quando ascendemos ao Segundo Grau na Arte, onde é encenado o Mito da Descida da Deusa. Entretanto, para não ser acusado futuramente de estar traindo os segredos da Arte, desde já informo que não o farei, detendo-me na simples análise do tema.

Como a maioria dos textos que compõem a Wicca são oriundos de sistemas muito antigos, temos que empreender um retorno aos tempos dos mistérios de Elêusis, nos quais a descida da Deusa era o tema central. Esse cerimonial sagrado, constituía-se de três partes principais: a descida e a subida, o jejum e as “belas gerações”, mas a parte culminante consistia na apresentação de um cereal ou espiga de grãos que era elevado, numa representação de que apesar de ter descido ao reino da morte, a Deusa vive novamente no cereal.

Esses mistérios, que foram transmitidos através dos tempos aos etruscos e romanos, foram absorvidos pelos celtas e povos Mediterrâneos, sobreviveram nas tradições familiares da bruxaria européia, e chegaram até nós. Entretanto, seu simbolismo foi sofrendo algumas alterações e acréscimos ao longo das épocas, e hoje, apesar de encontrarmos o mito da decadência, morte física e renascimento em diversas religiões, é na Antiga Religião que ele se apresenta em sua melhor pureza, já que transmite de maneira completa e sem deturpações, todo o seu significado original.

Também nele encontramos o tema da renúncia pessoal e da entrega de todos os valores externos que nos acompanham e que servem como referência social. Esses valores estimulam o orgulho e o ego cultivados pelo indivíduo e aceitos na estrutura de nossa sociedade competitiva, onde a busca pelo poder é a mola que a tudo impulsiona.

Essa renúncia é evidenciada no mito wiccaniano na exigência feita pelos Guardiães dos Portais do Submundo, quando a Deusa precisa despojar-se de todos os seus ornamentos para cruza-los. Aqui encontramos referências a todos os ornamentos sociais e psicológicos que tanto valorizamos, mas que na realidade em nada contribuem para a manutenção de um estado consciente da realidade. Podemos enumerar o poder pessoal, a autoridade, valor pessoal, rótulo social, aparências, a política, e enfim, nosso próprio eu. Toda essa fachada, na qual acreditamos como sendo algo consistente e real, mais cedo ou mais tarde cairá em ruínas por não ter nenhum alicerce que a sustente. Mas cabe ao iniciado compreende-la e entrega-la aos Guardiães.

Num nível mais profundo, na Tradição dos Mistérios da Wicca, nos deparamos com conceitos referentes aos mitos agrícolas ancestrais e com o dogma wiccaniano da reencarnação. Na Tradição de Mistérios, deparamo-nos com os Mistérios da Transformação, tão celebrados nos Sabás de Ostara e Mabon ainda hoje. Entendemos como esses ritos estão tão associados ao mundo subterrâneo, ao crescimento das plantas, a lua e a passagem da alma para o reino dos mortos. A Deusa precisa descer às profundezas da terra, onde se dá a sua metamorfose em alimento, da mesma maneira como a semente é plantada no chão, simbolizando a morte, a descida ao mundo inferior. James Frazer, em O Ramo de Ouro, nos conta como a figura das Deusas, Deméter e Perséfone, assumem a personificação do cereal. Perséfone passa três meses por ano no mundo dos mortos e o resto do ano na superfície, e sua ausência representa o período em que as sementes se ocultam na terra e os campos parecem mortos. Na primavera os grãos germinam e surgem para a vida, como se retornassem do túmulo. Frazer nos diz: “Se a deusa-filha era a personificação do grão jovem do ano, a deusa-mãe bem pode ser considerada como uma personificação do grão do ano passado, que deu origem às novas plantações”. Sem nos esquecermos que as sementes só germinam em contato com as profundezas, que despertam suas propriedades latentes. É lá que a Deusa encontra o Deus, agente que desperta a vida em seu interior.

Como na bruxaria do sul da Europa e na Wicca, e nas regiões rurais da antiga Grécia, eram oferecidos os primeiros grãos e cereais à Deusa no outono, como gratidão pelas colheitas e pela certeza de que a vida é eterna, assegurando assim, para o ano seguinte, o renascimento no mundo físico.

O encontro da Deusa com o Deus no mundo inferior assegura o surgimento da vida a partir da semente, representando a própria ascenção da Deusa. Mas quando a planta surge, apesar de simbolizar o retorno da Deusa, representa o próprio Deus, o Filho da Promessa, que renasce como o Senhor da Colheita. A Deusa é o espírito vital, o Deus é o corpo que contém esse espírito. No tempo certo, a essência do Deus será devolvida à terra para novamente fecundar a Deusa, num processo cíclico e eterno.

Quando comemos do pão e bebemos do vinho, estamos partilhando da essência sagrada, comungando com a presença divina dentro de nós, e assegurando nossa própria imortalidade. É justamente o que faziam as sacerdotisas em Elêusis, quando erguiam o cereal nos rituais dos Mistérios, e de certa forma o que se faz na missa católica, quando se ergue a hóstia. A Igreja usurpou o rito, mas não soube preservar seu significado mais recôndito, que é o da união sagrada dos opostos, da Deusa e do Deus.

Sabe-se que durante os ritos de iniciação do segundo Grau, o postulante alcançou a essência do significado inquestionável desse dogma, não por ter apenas aceito intelectualmente, mas por ter vivenciado em sua plenitude sua própria descida ao mundo inferior. Como isso é feito, já é outra questão, que só aos iniciados compete.

Mario Martinez

Alto Sacerdote Wicca - Tradição Gardneriana











Mais um pouco de história



Recentemente, uma nova onda de textos completamente desprovidos de fundamento, tem circulado por certas listas na Internet, procurando insinuar a ligação da Wicca com seitas satanistas e com a maçonaria. A meu ver, as pessoas que veiculam tais idéias não podem ser wiccanianas, já que qualquer sacerdote ou sacerdotisa de Wicca conhece perfeitamente suas origens e as bases nas quais se assentam os alicerces da religião da Deusa.
Assim sendo, vamos rever determinados pontos importantes, que nos remetem diretamente ao contexto verdadeiro da Wicca, dessa Antiga Religião, que sobreviveu durante tantos séculos, ora adaptando-se à situação vigente, ora lutando contra o sistema imposto pela Igreja.
Não vamos recuar muito no tempo. Ao contrário, procuraremos analisar os fatos decorridos já na época de maior expansão da Igreja.
Sabemos que no início da Idade Média, ainda existia o culto da Grande Mãe e do Deus de Chifres, e por incrível que possa parecer, ele não estava restrito às pessoas do campo. Era professado também pelos nobres, principalmente pelas rainhas, que seguramente eram sacerdotisas. A Igreja tinha uma grande dificuldade em impor a nova fé, devido às migrações de povos nórdicos pagãos e posteriormente dos saxões e dos normandos. No século VII e VIII, os reis pagãos ironizavam os missionários cristãos. Até o século IX, grande parte da Europa ocidental estava sob o poder dos normandos e dinamarqueses pagãos e o cristianismo não era aceito pela maioria das populações. Tal situação perdurou até o século XIII, e a grande maioria dos próprios sacerdotes cristãos ainda cultuava um paganismo, herdado por hereditariedade.
Somente com a chegada do século XIV, e com o aumento do poder político e econômico de Roma e do papado, inicia-se uma reação contra o paganismo. A ordem era, literalmente, esmagar a Antiga Religião, rival incontestável dos interesses cristãos.
Pelos relatos e processos que ainda existem contra os pagãos, observamos uma manobra política que visava denegrir o Deus antigo e transforma-lo numa figura que personificava o mal. Embora as bruxas presas e torturadas se referissem ao seu Deus como protetor e abençoado salvador, os inquisidores distorciam as declarações, chamando-o de Diabo.
Margareth Murray nos conta que a confusão, inteligentemente armada pela Igreja, usava a palavra Diabo em lugar do nome do Deus pagão, estigmatizando as infelizes pessoas, seguidoras de uma religião ancestral, como bruxas. Assim, pagãos passaram a ser vistos como pessoas ligadas ao “Princípio do Mal”, quando na verdade estavam apenas cultuando uma divindade não-cristã.
Apesar disso, podemos perceber a existência desse culto antiqüíssimo no final do século XVII, bem como no século XVIII. As representações das divindades pagãs, tais como o cão, o touro, o bode, o gato, etc., passaram a ser vistas como representações do mal. Pesquisando as fontes antigas, encontramos tais representações em todas as religiões antigas, desde o Egito até a Bretanha.
Foi a mentalidade eclesiástica cristã medieval que transformou os deuses pagãos em demônios, afirmando que aquele que não cultuasse o cristianismo era um herege adorador do Diabo. Desse modo, podemos perceber claramente que a bruxaria não cultuava o Diabo, Satã, ou qualquer outra coisa parecida. Tal figura faz parte da mitologia criada pelo cristianismo. O chamado satanismo, uma paródia erótica da missa cristã, era prática adotada por nobres e ricos ociosos a partir do século XVIII, para fugir à monotonia em que viviam. Foi na mesma época que apareceu o famigerado Hell fire club, e personagens pervertidos como Francis Dashwood, em cuja Abadia de Medmenham organizava orgias misturadas com satanismo. Sobre o pórtico de acesso podia-se ler a divisa (mais tarde de Thélème) “Faça o que quiser”, que cem anos depois Aleister Crowley retomará para si. Facques Finné nos diz: “Desde o início do século XVIII algumas sociedades destacaram-se por uma perversão organizada do culto cristão, relacionada com um culto a Satã e a seu séqüito, unida a uma orgia erótica que faz lembrar as Missas Negras”. Tal coisa proliferou como uma peste, e como podemos verificar, surgiu do ócio e da perversão das classes ricas.
A Antiga Religião, ao contrário, embora fosse endossada pelos reis e rainhas na Idade Média, era uma religião popular, voltada para o culto da fertilidade e da Natureza. Querer insinuar que a Wicca e a adoração do Deus de Chifres é uma derivação de práticas satanistas é uma afirmação no mínimo leviana e ignorante.
Na verdade, práticas recentes é que buscaram inspiração nos cultos pagãos mais antigos, e já no século XVIII, surgem sociedades como a Rosa Cruz e a Maçonaria, que incorporam dezenas de elementos do paganismo. A Maçonaria surgiu como uma ordem cabalística, que mesclava de tudo um pouco, desde conhecimentos do antigo Egito, até princípios cristãos, que de certa forma serviram para lhe dar um cunho legal. Naturalmente que muito da cultura do paganismo ainda estava enraizada na mente dos fundadores dessa sociedade. Assim, alguns elementos da Antiga Religião foram por ela incorporados. E isto não é de se estranhar, já que essa religião pagã tão antiga deixara traços indeléveis no espírito das populações européias. Encontramos, portanto, dezenas de semelhanças entre certas seitas e sociedades secretas mais recentes e o paganismo ancestral. Ele ainda vivia, não somente como religião atuante e oculta dos olhares profanos e da Igreja, mas também no folclore, nas festas, lendas, fábulas, canções e superstições da população em geral.
Até hoje em dia, em determinadas regiões da Europa, encontramos reminiscências pagãs muito vivas, mesmo entre os que não professam o antigo culto. Quem teve a oportunidade de viajar pela Espanha (Catalunha e País Basco), Escócia e Irlanda, as reconhece em quase todo o momento.
Desse modo, devemos ter cuidado ao interpretarmos o surgimento dos movimentos ocultistas a partir do século XVIII. A ordem Rosa Cruz, por exemplo, alega ter sido fundada no Egito por Tutmés III, um faraó que nada tinha de espiritualista: ao contrário, é chamado de o Napoleão do Egito, por ter sustentado guerras no Oriente Próximo, alargando em muito as fronteiras setentrionais do império (a chamada expansão imperialista egípcia). Agora mesmo alguns maçons, sem base alguma, afirmam que a Wicca surgiu da Maçonaria, quando na verdade as bases patriarcais e machistas da entidade por si só o negam.
Felizmente, tais informações falsas sobrevivem apenas o tempo de duração de sua leitura, que digamos de passagem não acrescentam nada de construtivo e verdadeiro sobre o passado religioso da humanidade.


Mario Martinez

Alto Sacerdote Wicca - Tradição Gardneriana









Litha - o pico do poder


Estamos entrando na época do ano de maior força no ciclo anual do Sabbath. No hemisfério sul, Litha é comemorado a 21 de dezembro mais ou menos, já que os solstícios e equinócios não são datas fixas e apresentam uma variação no calendário, quando o sol mantém a sua maior elevação, seu brilho mais intenso. Os dias tornam-se claramente mais extensos, e para os bruxos é o tempo de trazer a fertilidade e afastar a escuridão. Talvez seja a época de maior alegria em toda a Roda, uma vez que o se vive na plenitude do poder e da abundância. Luz e calor trazem o pico de energia traduzido num ritual de fogo e de vida.
Para todos os wiccanianos, Litha representa a materialização de todas as esperanças. Todos os projetos e pretensões que haviam sido lançados desde a época do plantio, estão se tornando realidade. Notamos desse modo, que o ritual de meio do verão é um processo vigoroso de transição, no qual as realizações ainda não foram colhidas, mas estão quase maduras para tal. Como tempo de transição, percebemos que atingimos o ápice do ano, mas ao mesmo tempo entramos na fase de declínio, na qual a progressão natural é o início do ano decrescente que culminará no solstício de inverno.
Nas tradições mais antigas da Wicca, essa fase de transição é celebrada através do mito do Rei do Carvalho e do rei do Azevinho, tema esse que se tem mostrado uma constante em quase todas as religiões da antiguidade, tendo até mesmo sido incorporado pelo cristianismo. Para entendermos melhor esse simbolismo, dividimos a Roda do Ano em duas metades, sendo o Rei do Carvalho o Deus do ano crescente que no solstício de verão cede seu lugar ao Rei do Azevinho o Deus do ano decrescente. Como vimos, é no ponto mais alto do verão que se inicia o declínio ou o movimento natural em direção ao inverno.
Nessas tradições ancestrais, o Rei do Carvalho morre nas mãos do Rei do Azevinho, para renascer no solstício de inverno e substituí-lo nos ritos de Yule, quando ele mata seu rival. Essa rivalidade entre os dois Deuses gêmeos, que na realidade são aspectos do próprio Deus Cornífero, girava em torno do amor e das atenções da Deusa. É a própria Deusa, em seu aspecto exuberante e sensual, quem preside à substituição do Rei do Carvalho por seu gêmeo sombrio, símbolo da decrepitude, uma vez que Ela sabe perfeitamente que todo esse apogeu é passageiro e a Roda deve continuar girando.
O cristianismo incorporou essa antiga mitologia, mas deturpou-a de tal maneira que a restauração ou o ciclo eterno de vida-morte-renascimento ficou bastante confuso. Como sabemos, no hemisfério norte Litha é comemorado em 21 de junho, e se pudermos traçar um paralelo entre o mito pré-cristão e sua posterior adaptação, veremos que o sacrifício de São João está íntimamente relacionado. Ele morre no dia 24 de junho encarnando a figura do Rei do Carvalho, ao passo que Jesus encarna a figura do Rei do Azevinho. Na tradição cristã, essas datas tornaram-se fixas, ignorando totalmente sua ligação com os ciclos da natureza.
As tradições Gardneriana e Alexandrina seguem esse tema, sem omitir o aspecto de ritual do fogo e da água, um representando o poder fertilizador encarnado no Deus, e o outro o poder a ser fertilizado representado pelo Caldeirão de Ceridwen e pela Deusa.
Como Sabbath solar, Litha era visto como um dos maiores festivais na Europa antiga. Alguns autores afirmam que a tradição dos ritos solares foi trazida para a Península Ibérica pelos árabes e mouros que lá se estabeleceram durante séculos. De qualquer maneira, era a época em que inúmeras fogueiras eram acesas por toda parte, o que posteriormente causou uma certa confusão com Beltaine, que também é um Sabbath solar no qual acendem-se fogueiras. A única diferença, é que no solstício de verão usa-se o Caldeirão com água e flores dentro, que simbolizam a Deusa no seu aspecto de transbordante fertilidade.
O antigo costume de acender fogueiras no solstício de verão era muito comum no Marrocos e na Argélia. Tais fogueiras são acesas nos pátios das casas ou praças, nas encruzilhadas, nos campos, onde se encontra grande variedade de ervas destinadas a produzir uma fumaça agradável, entre elas a arruda, tomilho, camomila, gerânio, etc. O costume local é passar pela fumaça das fogueiras. As pessoas também passam seus filhos pela fumaça e procuram dirigi-la para suas plantações. É costume ver as pessoas saltando as fogueiras sete vezes, retirando gravetos das chamas e levando-os para casa. Os doentes também são agraciados com o contato com a fumaça das fogueiras e acredita-se que serão curados. As cinzas das fogueiras são dotadas de propriedades curadoras e as pessoas esfregam essas cinzas nos cabelos e por todo o corpo.
Como se pode ver, esse costume é tão antigo que sua procedência perdeu-se nas brumas do tempo. O mais interessante é que os povos islâmicos seguem um calendário lunar, e as festas muçulmanas, dependendo da lua, variam de acordo com o movimento da Terra e do Sol, o que prova que as comemorações do solstício de verão são remanescentes de um paganismo anterior, muito mais antigo. É quase certo que essas práticas foram mais tarde incorporadas nas tradições dos antepassados europeus. Os celtas que viviam na Cornualha começavam a festejar os fogos em Beltaine, mas também em Sanhaim, quando os fogos eram acesos como esperança de retorno da vida.
Isso se dava devido ao fato de que os povos celtas conheciam apenas duas estações: verão e inverno. Dividiam o ano em duas metades, e Sir James Frazer em O Ramo de Ouro esclarece muito bem esse ponto quando nos diz que, como povo pastoril, pautava sua vida na dependência da manutenção dos rebanhos que eram levados aos campos em Beltaine, ou no princípio do verão, e trazidos de volta aos currais em Samhain, no princípio do inverno.
Os cristãos europeus desvincularam o solstício de verão da religião, mas não conseguiram suprimi-lo, já que ele era uma festa pagã de tremenda popularidade. O costume de acender fogueiras no solstício de verão existia em todas as regiões desde a Irlanda até a Russia, ou seja, por toda a Europa. Na Idade Média, o costume era acender uma fogueira, realizar uma procissão carregando tochas acesas pelos campos e fazer girar uma roda, significando o movimento do Sol, que tendo atingido seu ponto mais alto, começa a decair novamente em direção ao inverno.
Outra tradição que remonta a épocas muito antigas, e que está ligada aos ritos de fertilidade do solstício de verão, refere-se a realizar o Sabbath de Litha "vestido de céu" (nudez ritual). Antigamente, era costume que as mulheres dançassem nuas pelos campos na véspera do solstício para que colheitas abundantes fossem asseguradas. Elas cavalgavam suas vassouras pelas plantações, pulando até a altura que as colheitas deveriam crescer. Tal costume continuou até nossos dias, quando se faz uma paródia desse ritual, com danças de fertilidade no Círculo. Para aquelas que esperavam engravidar era a época do ano propícia. Caminhar pelos campos ou plantações nua, era assegurar a concepção.
Assim, as origens dos rituais do fogo, incorporados pela Wicca, são incertas. Temos a certeza de que eram práticas pagãs muito antigas, embora alguns autores afirmem que os celtas não comemoravam os solstícios e equinócios. Entretanto, apesar de tais argumentos, sabemos que determinadas tumbas celtas estão orientadas para receberem os primeiros raios solares no solstício de verão, e que por toda a Europa, o ano dividia-se de acordo com o início do verão e o início do inverno. Embora a chamada Bruxaria Tradicional afirme que os Sabbaths menores não eram comemorados, podemos afirmar sem sombra de dúvida, que a celebração dos solstícios e equinócios não foi uma invenção da Wicca ou uma incorporação de Gerald Gardner aos ritos da Roda do Ano, mas uma prática de grande antiguidade.

Mario Martinez
Alto Sacerdote Wicca - Tradição Gardneriana












A Liga como símbolo ritual


De alguns anos para cá, muitos novos wiccanianos tem veiculado tantas fantasias a respeito da Antiga Religião, que atualmente eu me pergunto se restará alguma coisa no futuro de consistente e coerente sobre os mistérios tradicionais e ancestrais. Venho de uma Tradição (gardneriana) que procurou resguardar, salvar e trazer para a luz os preceitos e práticas antigas da bruxaria, independente de qualquer sentimento quanto às religiões judaico-cristãs, há tanto tempo estabelecidas no ocidente. Como Pagãos e seguidores da Deusa e Seu consorte, sempre estivemos totalmente desvinculados de quaisquer sentimentos impostos por tais cultos patriarcais, tais como medo, vergonha de nossa sexualidade e de nossos corpos, entre outros.
Infelizmente, as pessoas que posteriormente aderiram à Antiga Religião, o fizeram vindo dessas religiões patriarcais, opressoras por excelência, trazendo para o seio da Wicca todo um padrão de comportamento e pensamento herdados dessas religiões.
Desse modo, muita besteira tem sido dita nos últimos anos contra o propagador e divulgador da Antiga Religião, Gerald Gardner. Recentemente, lendo um livro de uma chatice tremenda, fiquei chocado com as afirmações de seu autor, que dizia, entre outras coisas, que Gerald Gardner possuia desvios sexuais, era um voyeur, e teria portanto incentivado o uso das Ligas usadas pelas sacerdotisas do seu coven.
Tal afirmação demonstra somente a total falta de conhecimento dos símbolos tradicionais da Arte, os quais Gerald Gardner quis tanto preservar. Não podemos sair por aí modificando os dogmas, os símbolos e os preceitos da nossa religião só porque fomos educados e massacrados por uma religião na qual tudo é pecaminoso. Entretanto, sabemos como é difícil romper esses padrões tão fortemente impostos e enraizados. Se nos propomos a seguir a Antiga Religião da Deusa, é necessário que nos desvinculemos de todo esse passado e dele nos libertemos.
Mas o que se tem assistido hoje em dia, é que é mais fácil modificarmos os dogmas da bruxaria do que vive-los. Então, como essas pessoas são oriundas de uma religião que prega que o corpo nu é pecado, passam a usar túnicas nos Sabbats e Esbaths, contrariando o próprio Manifesto da Deusa que diz: "Sempre que necessitarem de minha ajuda, reúnam-se num local secreto, pelo menos uma vez por mês, quando a Lua estiver cheia. E como sinal de liberdade, estarão nus durante os rituais, pois minhas leis e meu amor os tornarão livres. E dançarão, cantarão, farão música e amor, tudo em minha homenagem, pois todos os atos de amor e prazer são meus rituais".
Gostaria de abordar um assunto que tem sido motivo de polêmica ultimamente, referente ao uso da Liga ritual. O uso das Ligas é antiquíssimo na verdade. Há uma pintura paleolítica que mostra um círculo de bruxas (pintura paleolítica em Cogul), na qual a figura do centro da roda leva uma Liga em cada perna. Primitivamente, eram cordas coloridas, amarradas em partes visíveis a todos, e que reforçavam o símbolo de autoridade dentro do círculo.
Desde épocas imemoriais, se tem atribuído propriedades mágicas às Ligas, especialmente se pertencem a uma bruxa mulher. Da mesma forma, as cordas dos bruxos usadas na cintura desempenham o mesmo papel. Temos notícia de um processo de bruxaria movido contra uma mulher chamada Janet Pereson em Durham (1570), no qual ela é acusada de usar "de bruxarias, medindo com cordas e ligas, para salvar as pessoas das fadas". Numa história do século XVIII, o poder mágico da Liga é bem ilustrado: uma águia carregou um galo em Scalloway, e uma das testemunhas tirou uma corda (sua liga) e fazendo alguns nós nela enquanto pronunciava palavras extraordinárias, a águia deixou cair ali mesmo o galo".
Também existe uma lenda sobre a Liga, na qual consta que no castelo de Sewingshields, no coração de Northumberland, existia uma caverna onde dormiam o rei Arthur, a rainha Gwenevere, seus cortesãos e 30 pares de sábios. Um fazendeiro descobriu a caverna e sobre uma mesa de pedra viu uma espada, uma Liga e um chifre. Levantando a espada, cortou a Liga e quase infartou, quando viu os mortos se levantarem. Ao correr para fora, ouviu Arthur dizer: "Ai do dia nefasto em que nasceu o insensato que pegou a espada e cortou a Liga, mas não fez soar o chifre de caça". Strutt declara que no século IX cortar a Liga era direito exclusivo de "reis e príncipes, ou de sacerdotes da mais alta dignidade".
Durante a Idade Média, temos uma visão do poder mágico da Liga, quando o rei Ricardo I animou o seu exército, dando Ligas de couro a certos cavaleiros escolhidos, para colocá-las ao redor da perna.
Por fim, a criação da Ordem da Liga por Eduardo III é conhecida por todos, na qual uma bruxa conhecida como a Donzela de Kent deixa cair sua Liga diante de toda a corte. Donzela é um dos cargos existentes em um coven de bruxos. A referida Donzela, era a Condessa de Salisbury e a confusão não foi por ver comprometida a sua honra, já que seria preciso muito mais que uma liga para fazer ruborizar uma dama do século XIV (no dizer de Margareth Murray), mas porque a posse de tal Liga mostrava que não só ela era membro da Antiga Religião, mas que nela ocupava uma posição elevada, o que a deixava em situação de perigo ante a Igreja. Mais incrível ainda foi a atitude do rei ao colocar a Liga, declarando-se publicamente diante dos súditos pagãos como o próprio Deus Cornífero encarnado. Sabemos que muitos covens foram fundados a partir dessa iniciativa real.
Assim, podemos constatar que Gerald Gardner não inventou o uso da Liga por ser uma espécie de voyeur ou qualquer insensatez desse nível. Mas que tais afirmações, isso sim, partem de pessoas que desconhecem todos os antigos fundamentos e mistérios das tradições verdadeiras da Wicca.


Mario Martinez
Alto Sacerdote Wicca - Tradição Gardneriana











Stregherie e Wicca, a Antiga Religião


Recentemente tenho lido e ouvido dezenas de afirmações e comentários sobre o surgimento da Wicca no século passado. A grande maioria desses comentários, afirma que o responsável pelo seu ressurgimento, Gerald B. Gardner, teria inventado um sistema religioso a partir de elementos extraídos da magia cerimonial, de Aleister Crowley e de doutrinas orientais, entre elas o Budismo.

Como Alto Sacerdote Gardneriano há 32 anos, tais afirmações causam-me um certo espanto, já que são totalmente destituídas de verdade. Raven Grimasi, em seu livro Os Mistérios Wiccanos , disse: "Infelizmente há aqueles que rotulam todas as Tradições Wiccanas como reconstruções modernas especulativas, revisionistas ou invenções completas. Essa afirmação equivocada é compreensível entre aqueles que possuem pouco ou nenhum conhecimento da Tradição dos Mistérios na Antiga Religião."

Para compreendermos realmente as origens da Wicca, precisamos empreender um retorno no tempo, ou seja, recuarmos até épocas em que os Etruscos, povo que viveu no norte da Italia, estabeleceu seu florescente império.

Ao contrário do que muitos pensam, todas as tradições da bruxaria existentes atualmente, até mesmo os mais conservadores, viram suas crenças, ritos e mistérios serem influenciados por dezenas de povos e culturas diferentes ao longo da história. Dessa forma, tivemos a influência dos etruscos, dos gregos, dos romanos, dos celtas, dos povos do norte da África, só para citar alguns. Tudo isso, só para lembrar àqueles que apregoam ser a sua bruxaria a mais autêntica, antiga e verdadeira, que não existe e nem nunca existiu linhagem totalmente pura em nenhuma tradição, qualquer que ela seja.

Os bruxos Tradicionais, por exemplo, renegam a Wicca, afirmando que ela seria somente uma invenção moderna, ao passo que a sua bruxaria, essa sim, seria 100 % pura. Entretanto essa tradição surgiu em meados do século XX, como uma reação à divulgação dada por Gerald Gardner à bruxaria. A intenção era desmentir as afirmações de Gardner, fazendo-o passar por impostor, e muitos bruxos hereditários estavam envolvidos nessa tentativa. Na verdade, muitas culturas e civilizações antigas terminaram por cristalizar suas influências no seio da bruxaria européia, que por sua vez inspirou enormemente as ordens cabalísticas modernas, como a Maçonaria, a Golden Dawn e várias outras.

Não podemos esquecer também que, quando os chamados povos celtas, cuja origem ainda é questionada, migraram cada vez mais para o oeste da Europa durante mais de 1000 anos, entraram em contato com outras culturas, assimilando e adotando muitas de suas práticas religiosas. Os séculos de intenso comércio entre os celtas e outros povos mediterrâneos, também foram decisivos para isso. Assim, não podemos falar em tradição celta pura, uma vez que quase toda a cultura celta se perdeu. Como todos sabem, os celtas não escreveram sua história e seus costumes. Os romanos o fizeram, e sabe-se lá com que isenção.

Posto isso, gostaria de explicar em primeiro lugar, que a Wicca está enquadrada perfeitamente dentro da Antiga Religião, por ser uma religião realmente muito velha. Suas origens podem remontar aos cultos matrifocais que sobreviveram no sul da Europa e na região mediterrânea. Os etruscos herdaram essa religião, que resistiu à expansão das religiões patrifocais em Creta, e posteriormente a legaram aos povos celtas que, em sua vinda para o oeste, atravessaram seu país.

Na Stregherie italiana, encontramos vestígios dessa Vecchia Religione, ainda hoje cultuada pelas bruxas do sul da Italia. Encontramos seu eco presente no admirável livro de Charles G. Leland, Aradia, o Evangelho das Bruxas. Esse culto pagão tão antigo, que recua até a época etrusca, era tal qual a Wicca, uma religião extremamente secreta e oculta no seio das famílias. Essa tradição familiar hermética, transmitida oralmente, sobreviveu ao tempo e às perseguições religiosas numa Itália que era a sede da Igreja Católica e da Inquisição.

As semelhanças entre a bruxaria italiana e a Wicca são tantas, que podemos de início enumera-las e compara-las: O culto voltado para uma divindade feminina e seu Consorte; a crença na reencarnação (que os detratores de Gerald Gardner dizem que ele incorporou de religiões orientais o que vemos ser totalmente infundado); a utilização da magia como instrumento de expressão e manifestação da energia vital; a Lei de Causa e Efeito mostrando que tudo faz parte de uma grande teia universal; a certeza da responsabilidade e das conseqüências de nossos atos (karma) que acusaram Gardner de ter incorporado de religiões orientais; a vida pós-morte e a evolução espiritual. Só para citar algumas.

Podemos afirmar que Gardner não utilizou o livro de Leland para fundamentar a Wicca, mas que essas lendas e mitos sempre estiveram vivos e presentes na Antiga Religião cultuada no sul da Europa, e que Gardner foi iniciado num coven que seguia esses fundamentos.

Diferenças entre a bruxaria do norte da Europa e a Wicca, são estabelecidas quando analisamos, por exemplo, a Roda do Ano. Alguns bruxos irlandeses e tradições nórdicas (não todos), comemoram apenas 4 Sabás anuais. Tanto a Stregherie quanto a Wicca comemoram os 8 Sabás da Roda, o que inclui os solstícios e equinócios do ciclo agrícola. O clima do sul da Europa é mais ameno, mais mediterrâneo, e foi o berço dos cultos centrados nos ciclos agrícolas.

Não há dúvida de que as raízes da Wicca remontam ao período da Era Glacial da Antiga Europa. Lewis Spence nos diz em The Mysteries of Britain, que as tradições druídicas são fruto de uma mistura entre a cultura mediterrânea neolítica e as crenças nativas da antiga Bretanha. Logicamente que estou me referindo à verdadeira Wicca, e não à Wicca Moderna, surgida após 1980, e que trouxe tantas mudanças e aberrações, que quase não conseguimos reconhece-la. Assim sendo, é necessário um enorme cuidado quando lemos sobre a Wicca na Internet ou mesmo em livros, porque a tendência atual é a de promover uma deturpação dos antigos Mistérios. Muitos o fazem por desconhece-los e não ter acesso a eles, enquanto que outros o fazem por estar de certa forma muito presos a conceitos judaico-cristãos.

Como um wiccaniano da "antiga escola", conheço muito bem a Wicca nas suas profundezas: as raízes da velha árvore. Não podemos apenas apreciar as novas folhas. Temos que tratar das raízes, para que a árvore não morra.
Quando temos acesso aos ensinamentos da Wicca verdadeira, observamos que travamos conhecimento com os sistemas celtas da velha Inglaterra, e à medida que vamos nos aprofundando no estudo, recuamos para a época gaulesa, romana, grega e etrusca, o que acaba por nos conduzir até Creta e seu culto matrifocal, centrado na Deusa. Encontramos os fundamentos da Wicca, não essa Wicca que dizem que Gardner inventou, mas uma Wicca tremendamente velha, cujos mistérios, símbolos, conceitos e raízes nos remetem aos tempos tribais da civilização.


Mario Martinez

Alto Sacerdote Wicca - Tradição Gardneriana











A Base do aprendizado na Wicca


No caminho iniciático dentro da bruxaria, o desenvolvimento do poder pessoal está alicerçado na observação de quatro regras essenciais, e que muitas vezes são conhecidas pelo nome de “pirâmide dos bruxos”. Todo o processo de aprendizado é baseado nesse alicerce, sendo sua aplicação conjunta necessária e importante.
Essa pirâmide compõe-se de: imaginação, vontade, fé e segredo.
Através da imaginação usamos nossa mente para criar idéias, visões e mentalizações, a ferramenta principal na Arte. Alimentar a imaginação é importantíssimo para qualquer bruxo, e utilizando nossa emoção, mais profundas se tornam as raízes das visões interiores, mais fortes se tornam. Qualquer bruxo sabe que quanto mais carga emocional se coloca num ritual, mais forte e poderoso ele se torna. O uso de todos os suportes mágicos, tais como perfumes, música, velas, danças selvagens, sexo, são colocados em ação para despertar a imaginação e potencializar o rito.
Obviamente que se torna necessário a utilização de um local próprio para seus rituais, um local onde ninguém possa interromper e onde você possa dar ampla vazão às suas ações. Cercar-se de instrumentos e utilizar uma decoração voltada para a bruxaria também ajuda a estimular sua imaginação, a fortalece-la. Obviamente que isso acontecerá com o tempo.

A vontade é o segundo item a ser observado. Logicamente que essa vontade mágica é muito necessária para a realização do rito, a trata-se de uma vontade férrea, obsessiva, uma vontade que não tolera ou admite a menor oposição ou tentativa de resistência. A vontade é colocada em ação durante a realização do rito e está intimamente ligada à emoção desencadeada pela imaginação. Existem muitos exercícios para desenvolver a vontade e a imaginação: meditar olhando a chama de uma vela, ou manter a atenção num ponto pintado no centro de um círculo durante 30 minutos e sem distrações são apenas exemplos simples. Vontade e atenção são essenciais para o exercício do ofício. Em todo o aprendizado, a perseverança é imprescindível. Desenvolver esses poderes não é coisa fácil ou da noite para o dia. A mente humana é dispersiva, e manter uma atitude concentrada é difícil no início. Cultivar a vontade mágica quer dizer saber o que se quer, em primeiro lugar, e focalizar sua atenção exatamente no ponto que se quer, nessa única coisa e mante-la na consciência durante todo o tempo sem nenhuma distração.

A terceira face da “pirâmide” é a fé, e todo o poder mágico depende da existência de uma sólida fé, já que é através dela que a imaginação se torna completa e poderosa. A menos que o bruxo tenha uma fé tão sólida como uma rocha, não conseguirá alcançar a ardente intensidade da vontade e da imaginação. A fé da qual falo, é a inquebrantável certeza interior, parte da experiência pessoal, e não a simples crença mental, que sempre está no plano superficial. Crenças podem mudar, mas a fé não. O desenvolvimento de uma fé sólida está, de certa forma, ligado a manutenção da sua própria palavra. O bruxo que falta com a palavra, perde o poder. Caso acredite que não pode cumprir uma promessa, não a faça. Se você está desenvolvendo uma atitude mental na qual o que se diz se tornará realidade, ou seja, palavras de poder, no instante em que não possa cumprir com sua palavra, terá destruído todo o trabalho anteriormente realizado. Isso não tem nenhuma conotação ética ou moral, mas nenhum bruxo dá sua palavra à toa.

O último lado da “pirâmide” é o segredo. A bruxaria utiliza o conhecimento, e o conhecimento proporciona poder. Poder compartilhado é poder perdido. Essa é uma das razões porque todo o aprendizado na Wicca sempre foi oral. É necessário se conhecer a quem estamos transmitindo o conhecimento. Fala-se hoje em dia que a Wicca é uma religião de liberdade e sem restrições, mas na realidade isso não é verdade. Os covens, ao manterem em segredo seus procedimentos, estão assegurando com seus interesses, a continuidade desse poder. Outra razão para isso, ainda é a velha idéia de que a bruxaria é coisa do mal. Apesar do tempo das fogueiras ter passado, não seria agradável ser mal visto pelos vizinhos ou pelos colegas de trabalho. Tal coisa ainda existe, e muito. Em alguns lugares, os fundamentalistas de plantão estão a postos. A bruxaria pode não ser ilegal na maioria dos países ocidentais, mas você pode estar nadando em águas perigosas sem saber. Só muito recentemente na Inglaterra foi abolida a chamada Lei de Médiuns Fraudulentos, o que já não envolvia acusações de heresia. Mas recentemente, no Brasil, médiuns foram levados à justiça, entre eles o que trabalhava com o famoso Dr. Fritz.
O segredo na bruxaria está ligado também ao processo ritual. Quando se lança um cone de poder ou um encantamento, coloca-se em movimento a energia elemental, astral e a eletricidade que emana dos corpos dos bruxos. Colocando em movimento sua vontade ardente, uma fé inquebrável, sua imaginação e emoção, exteriorizando sua energia para o propósito pretendido, em meio ao clímax do ritual, você é brutalmente interrompido por algum parente ou amigo: “O que você está fazendo ? Que cheiro é esse ? Nunca vi tanta fumaça, está querendo botar fogo na casa ?” Já deu para perceber que desperdiçamos energia, tempo, e que vai ser quase impossível recomeçar.
Ninguém precisa saber que você é bruxo. Você não precisa andar de preto, usar um pentagrama enorme pendurado no pescoço, ou qualquer outro tipo de auto-afirmação imatura. O bruxo verdadeiro existe no nosso interior, e o melhor a fazer é passar desapercebido na multidão.
Infelizmente o espaço é pouco para se entrar em maiores detalhes sobre esse assunto. Entretanto, como ele faz parte do processo iniciático, acredito que todos os que seguirem um caminho tradicional da Arte receberão o conhecimento.

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